A recente participação do secretário estadual de saúde em um fórum da região metropolitana trouxe à tona um debate crucial sobre a descentralização dos serviços de saúde. A proposta é fortalecer a capacidade de atendimento dos municípios vizinhos à capital, reduzindo a dependência de Belo Horizonte para casos de média e baixa complexidade. A iniciativa pretende garantir que tratamentos essenciais possam ser realizados mais próximos das residências dos pacientes, melhorando o acesso e diminuindo deslocamentos longos e desgastantes.
Historicamente, a proximidade com a capital gerou uma concentração de demandas nos hospitais de Belo Horizonte. Essa centralização resultou em superlotação, filas e sobrecarga para as equipes de saúde, além de dificuldades para pacientes que precisam enfrentar trânsito intenso e longos percursos. A nova estratégia busca inverter essa lógica, investindo na estrutura hospitalar e em equipamentos de cidades da região metropolitana, de forma a oferecer atendimento resolutivo e eficiente sem que seja necessário recorrer sempre à capital.
O plano inclui investimentos robustos em infraestrutura hospitalar em cidades estratégicas. Vespasiano, por exemplo, receberá recursos para implantação de leitos de UTI, bloco cirúrgico e serviços de hemodiálise, evitando que pacientes precisem se deslocar para realizar procedimentos demorados. Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Contagem também estão na lista de beneficiados, cada um com melhorias específicas que atendem às demandas mais urgentes de suas populações.
Contagem, por ser uma das maiores cidades de Minas Gerais, terá a alta complexidade em cardiologia reforçada, o que reduzirá a transferência de casos para a capital. Em Nova Lima, as conversas já estão avançadas para ampliar o número de cirurgias eletivas, otimizando a fila de espera e diminuindo a pressão sobre os centros cirúrgicos de Belo Horizonte. Esses investimentos não apenas fortalecem o sistema regional, como também contribuem para um uso mais racional da rede estadual de saúde.
A descentralização também está alinhada a uma visão de humanização no atendimento. Reduzir o tempo de deslocamento de pacientes significa mais conforto, menos custos e maior eficiência nos tratamentos. No caso de terapias que exigem frequência, como hemodiálise, a proximidade com o local do procedimento é determinante para a qualidade de vida do paciente. Essa abordagem coloca o cidadão no centro da política pública, atendendo não apenas a demandas técnicas, mas também às necessidades humanas.
Apesar do alinhamento estratégico, a proposta enfrenta resistência de alguns setores. Profissionais de saúde e representantes de movimentos sociais alertam para a possibilidade de que investimentos fora da capital resultem em redução de leitos e serviços em Belo Horizonte. O debate é complexo e exige um equilíbrio entre ampliar a capacidade dos municípios e manter a eficiência dos hospitais da capital, especialmente na alta complexidade, que continuará sendo um dos focos de Belo Horizonte.
O fórum que discutiu o tema contou com a participação de prefeitos, gestores e especialistas, e faz parte de uma série de encontros promovidos para tratar de questões estratégicas da região metropolitana. A pauta da saúde tem se destacado pela urgência e pelo impacto direto na vida da população. A expectativa é que novas rodadas de discussões resultem em parcerias mais sólidas e em um plano de ação que contemple tanto investimentos em estrutura quanto capacitação de equipes.
Ao propor um modelo integrado, as lideranças políticas reforçam a importância de que cada cidade seja capaz de atender grande parte das suas próprias demandas, ao mesmo tempo em que se mantém conectada a uma rede regional. A integração entre municípios pode se tornar um exemplo de gestão pública eficiente, capaz de melhorar indicadores de saúde e oferecer um serviço mais humano, acessível e de qualidade para milhões de pessoas que vivem no entorno da capital mineira.
Autor: Muhamed Ashar
